A ministra da Agricultura, Assunção Cristas, está grávida do seu quarto filho e garantiu que pretende trabalhar a tempo inteiro até ao final da gestação.
Infelizmente, a grande maioria das mulheres, principalmente as mulheres trabalhadoras, não podem dizer o mesmo porque não têm as mesmas regalias que a senhora ministra.
Sempre foi difícil educar um filho, principalmente nos dias de hoje, nos tempos de crise que vivemos e sentimos na pele. Para a grande maioria das mulheres, engravidar é complicadíssimo, quer pela situação de desemprego, quer pela situação de emprego precário, inseguro e mal remunerado. Todas nós gostaríamos de ter filhos sem preocupações, mas isso é um luxo só para algumas.
Recordemos o recente caso de Liliana Melo, de quem foram retirados sete dos dez filhos porque não teria condições económicas de os criar. O problema é que a única ajuda que a jovem mãe, moradora de Sintra e de origem cabo-verdiana, recebia do Estado eram os 175 euros do abono de família. Por que razão, em vez de lhe retirar os filhos, o Estado não garantiu creche para as crianças e trabalho para Liliana os poder sustentar? Não, em vez disso, sugeriu que Liliana laqueasse as trompas e, diante da sua recusa, retirou-lhe os filhos para serem adotados, como se não tivessem pais.
A Liliana e a outras tantas mulheres são vetados os mais elementares direitos humanos, enquanto para Assunção Cristas e outras de sua classe é uma alegria esperar mais um filho sem preocupações. Mulheres como Assunção Cristas, e outras que ocupam cargos de chefia ou governação, contam com o trabalho de outras mulheres para dar suporte na organização da casa e no atendimento aos filhos e, assim, a sua dupla jornada de trabalho é muito reduzida, o que permite trabalhar até ao final da gestação; a outras mulheres são feitas ameaças, são-lhes incutidas uma enorme pressão social, como trabalhar mais e mais, não acompanhar o crescimento dos filhos, pois o trabalho não permite, o pagamento de valores astronómicos em creches, etc.
Direitos como creches, a jornada de oito horas de trabalho, o voto, o aborto ou o divórcio, foram fruto de mobilizações operárias. São direitos que este governo e a troika nos estão roubar. É preciso que nos mobilizemos novamente para garantir emprego digno e que saúde e educação sejam asseguradas pelo Estado.
Apesar de a opressão à mulher ser generalizada, os seus efeitos são distintos de acordo com a sua classe social. A nossa luta é para que todas as mulheres possam ter os direitos que Assunção Cristas e as mulheres da sua classe usufruem com exclusividade, às custas da exploração do conjunto da classe trabalhadora.
Joana Oliveira
Alexandrina Duarte