O secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, empregou a palavra “escurinho” para identificar o representante do FMI na troika, Abebe Selassie, durante o seu discurso na manif dos professores de 26 de Janeiro, em Lisboa. As palavras não são inocentes, e a denominação utilizada pelo sindicalista faz parte do arsenal de expressões racistas criadas para estigmatizar uma parcela da humanidade. Reconhecer o erro e pedir desculpas por ele, principalmente aos negros e negras que sofrem alusões ofensivas em função da cor da sua pele, teria sido o mais correto. Mas não o fez, e isso só tornou o erro mais grave.
O racismo é uma das formas de opressão utilizadas pelo capitalismo para aumentar a exploração do conjunto da classe trabalhadora, em especial dos negros e negras que dela fazem parte. Em boa parte do mundo – inclusive aqui em Portugal – esses homens e mulheres são tratados como seres inferiores, privados de oportunidades, emprego e direitos e, em especial a juventude, vítimas da violência policial. Piadas abjetas circulam impunemente, assim como designações que remontam a um dos períodos da história que mais nos deveriam envergonhar, o da escravidão atlântica. As expressões racistas – assim como todas as outras formas de opressão, como o machismo, a xenofobia ou a homofobia – devem ser combatidas em todas as circunstâncias, ainda mais em atividades da classe trabalhadora como a manif dos professores.
Abebe Selassie deve ser atacado pelo facto de ser o representante do imperialismo norte-americano em Portugal, responsável, junto com os seus comparsas da União Europeia na troika, pela imposição a um governo fantoche de medidas que trazem desemprego e miséria à população portuguesa. A classe trabalhadora – imigrante ou nativa -, a juventude e a população, às quais o governo e a troika vêm arrancando direitos históricos conquistados no 25 de Abril, devem, independente da cor da pele, credo religioso, sexo ou opção sexual, estar unidas contra o governo e o FMI representado por Abebe Selassie.
Expressões como a utilizada por Arménio Carlos não ajudam a nossa luta, pelo contrário, provocam divisão e fornecem pretextos aos hipócritas porta-vozes da burguesia para nos atacar. A luta dos homens e das mulheres negras contra a opressão racial deve ser partilhada por todos os trabalhadores, inclusive na recusa consciente de empregar palavras que só servem para a perpetuar.