Parece provocação, mas quando ainda nem sequer sabemos o valor do salário que iremos receber no final deste mês aparece mais uma bomba. Governo e FMI (troika) querem simplesmente despedir até 20% dos funcionários públicos, entre os quais 50 mil professores, e cortar até 7% dos seus salários e 20% nas pensões. Além de aumentar o valor das taxas moderadoras e das propinas pagas nas universidades públicas. Tudo isso para poupar 4000 milhões de euros na despesa do Estado a partir de 2014 para garantir que os juros da dívida sejam pagos, que a banca continue a ser financiada e que a meta do défice possa ser cumprida.
Segundo o relatório com as “sugestões” do FMI, feito com a participação de dez ministros e cinco secretários de Estado, os polícias, militares, professores, médicos e juízes têm “demasiadas regalias”. A proteção social, para o FMI, seria “demasiado dispendiosa”, e o subsídio de desemprego, “demasiado longo e elevado”.
O modelo grego
Desta forma, Portugal está cada vez mais próximo da situação grega. Os suicídios estão a aumentar e já superam os acidentes de viação. A mortalidade infantil, um dos indicadores dos quais os portugueses se podiam orgulhar, também tem vindo a subir. Em 2011, alcançou valores de há dez anos em nove regiões do país, entre as quais a Amadora.
Se as medidas do governo estão a deixar o país mais pobre, também não estão a servir para reduzir o défice (que só se mantém dentro das metas acordas com a troika devido a expedientes como o Fundo de Pensões da banca, em 2011, e a privatização da ANA, no ano passado) nem a dívida pública. A dívida alcançou 120,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em setembro, um máximo histórico. No final de 2008, estava nos 71,7% do PIB. Quem ganha com isso são os especuladores, isto é, o sistema financeiro: a compra de obrigações portuguesas proporcionou aos investidores um lucro de 57%, a taxa mais alta obtida com títulos europeus. Conclusão: a morte dos portugueses é um negócio lucrativo para os grandes capitalistas internacionais.
É preciso uma resposta à altura
Já está claro para quem quer ver que isso não vai mudar com greves gerais de um dia, decretadas sem a devida discussão e preparação pela base; com manifestações em que as pessoas não podem falar, fazer propostas e manifestar a sua indignação; sem uma ampla unidade entre todos os setores que estão a ser prejudicados e se colocam contra a troika, a austeridade e este governo.
É preciso também rever certas propostas políticas que não respondem à radicalidade da situação que estamos a viver. É hora de propor, sem hesitações, a suspensão do pagamento da dívida e a discussão da saída de Portugal do euro, como já estão a defender vários economistas. Este é o caminho alternativo para romper com o que já estamos a trilhar a passos largos, no sentido da neocolonização do país. É hora de repensar a sociedade em que vivemos, e discutir as propostas para Portugal inserido numa Europa socialista.
Cristina Portella