POR UMA COLIGAÇÃO À ESQUERDA EM ALTERNATIVA À EXTREMA-DIREITA

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Regime de crise em crise

Desde o início de 2025 que o governo do PSD/AD estava numa ‘governação à vista’ e numa disputa eleitoral para tentar recuperar o eleitorado da extrema-direita que votou Chega em Março de 2024. Dentro do governo PSD/AD, os ‘casos’ com governantes sucederam-se e a mistura dos negócios e ‘benefícios’ para governantes aumentaram a instabilidade institucional.

Não foram precisos muitos dias para estes ‘casos’ de ‘esquemas e benefícios’ colocassem o primeiro-ministro, Luís Montenegro, no centro dos escândalos.

Menos de um ano de governação, já colocou vários governantes na teia das negociatas que os beneficiam e que agora encurralaram Montenegro com os recebimentos de milhares de euros provenientes de alguns grupos económicos ‘regionais’.

A chamada ‘classe política’ que tem governado o país, nas diferentes governações PS e PSD (com ou sem AD), e os novos partidos da direita formados a partir das dissidências do PSD e CDS têm uma mesma estrutura genética de procura de negócios e lucros pela política. Com uma maioria de quadros formados nesses ‘esquemas’ e vidas de privilégio torna-se quase impossível constituírem equipas de governação que não tenham o ‘lastro’ das ‘negociatas’ e ‘favorecimentos’, bem como submissões aos interesses dos grupos económicos.

É neste quadro que se inscreve a presente crise política.

Disputa de interesses e ‘reprogramação do PRR’

No dia 1 de Fevereiro de 2025, o governo do PSD/AD apresenta a Bruxelas o pedido de reprogramação do PRR com ‘reorientação dos investimentos’   nomeadamente no investimento para Unidades de Saúde (ULS) a privatizar com PPPs, anunciadas pela ministra da Saúde, e a alteração de investimentos na ferrovia, barragens e metropolitano de lisboa, com forte intervenção do ministro Castro Almeida (Coesão Territorial).

No capitalismo português, os negócios da maioria dos grupos económicos dependem de benefícios e empreitadas atribuídas pelo Estado e seus governantes, e uma ‘reprogramação’ no acesso aos fundos de milhares de milhões, tem por consequência uma alteração dos beneficiários e gera conflito de interesses entre os anteriormente ‘escolhidos’ (ainda na governação PS) e os agora beneficiados pelas decisões do atual governo. E, como diz o ditado, ‘zangam-se as comadres’ descobrem-se as verdades’.

É esta disputa pelos benefícios concedidos pelo estado que leva ao aumentar das ‘criticas’ e disputa entre PS e PSD.

Frente eleitoral de partidos da esquerda

Perante as eleições de 18 de Maio, partidos como o Livre e o Bloco de Esquerda mostraram-se disponíveis para apoiar acordos com o Partido Socialista, pós-eleições. Parece que nada aprenderam com o apoio que o BE e o PCP deram à anterior governação do PS/Costa, e que lhes custou a perda de muitos milhares de apoiantes na classe trabalhadora.

O que os trabalhadores e o país necessitam, não é de mais apoios a partidos do ‘centrão’ e da continuação da alternância entre PS e PSD no poder. O que é necessário é construir uma alternativa pela esquerda e com independência de todas as governações anteriores.

É igualmente necessário construir as bases para que a alternativa aos 50 anos de governos PS e PSD não seja o Chega (coligado ou não com o PSD ou o PSD coligado com a IL). A alternativa à direita e à extrema-direita, terá de ser de esquerda, mas de esquerda anti sistémica e não mais do mesmo. Uma alternativa que acabe com as políticas de favorecimento aos grupos capitalistas e implemente uma política favorável a quem trabalha, com reforço dos serviços públicos, salários e pensões dignas, de imediato um salário mínimo e pensão mínima de 1000 euros, tabelamento dos preços de bens e alimentos, habitação e rendas num máximo de 30% do rendimento do agregado familiar, apoio aos jovens e estudantes, fim das propinas no ensino e mais apoio social e residências estudantis. Uma política que recuse o financiamento da guerra da Nato e dirija os gastos militares para o investimento nos serviços públicos ao serviço da população (saúde, habitação, ensino e transportes).

Perante as eleições que estão convocadas para Maio, no quadro da realidade política existente, e no sentido de reforçar representação dos partidos da esquerda, seria necessária a constituição de uma frente eleitoral de esquerda, que incluisse os atuais partidos da esquerda parlamentar (o BE, PCP, Livre e PAN) e estivesse aberta à inclusão de movimentos sindicais, sociais e demais organizações de esquerda.

O MAS propôs a constituição dessa frente eleitoral para as eleições de 18 de Maio, a qual, em nosso entender constituiria um início de resposta e oposição ao crescimento eleitoral da extrema-direita.

Independentemente dessa resposta eleitoral imediata, o MAS continua a afirmar a necessidade da construção de uma alternativa política independente e anticapitalista que apoie sem reservas as lutas dos trabalhadores, a sua independência e organização democrática para enfrentar os poderes e arbitrariedades patronais e a disputa política nacional. A situação internacional exige essa alternativa, e perante um capitalismo à beira da guerra e da barbárie, a saída é a mobilização dos povos, dos trabalhadores e da juventude contra a guerra, a exploração e a opressão.

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